FOLHA DOS GANCHOS - COLUNISTA ELI DIAS CORREA - O ELEFANTE FORMIGA

 COLUNISTA :  ELI DIAS CORREA

PROFESSOR, HISTORIADOR E FILÓSOFO



O ELEFANTE FORMIGA

 

À sombra generosa de um baobá ancestral, vivia um elefante de alma doce e coração errante. Não seguia manadas, nem marchava com a multidão, era solitário e peculiar, feito vento que sopra ao contrário.

Durante o dia, esticava sua tromba até o alto das árvores, colhia folhas como se colhesse sonhos, depositava-as sobre as costas largas e levava-as com cuidado até um ninho de barro, moldado por suas próprias esperanças. Um elefante em ninho de barro? Pois é... e o pobre ainda se entristecia. Cavava a terra com afinco, tentando abrir túneis como quem busca um lar profundo, mas o solo não cedia. Sentia-se frustrado por não botar ovos, por não gerar filhotes à moda das formigas. Um mamífero pondo ovos?

Ele acreditava, com todo o ser, que era uma formiga. Na infância, seus irmãos de tromba haviam lhe dito, com voz firme e olhos cheios de certeza, que ele era pequeno, operário, invisível. E ele acreditou.  Assim, viveu a dor de não caber no papel que lhe deram. Achava-se uma péssima formiga, trapalhona, pesada, incapaz. Não cumpria as tarefas do seu “formigueiro” ou seria um “elefanteiro”?

Até que, num fim de tarde em que o cansaço escorria pelos olhos, ele chorou. Chorou como nunca. Suas lágrimas encheram o buraco que cavava e formaram uma poça silenciosa. Curvou-se para olhar... e viu. Viu-se.
Enorme. Sem antenas. Com orelhas vastas como luas. Forte, belo e diferente.

Meu Deus... eu sou um elefante! Disse, num sussurro que ecoou por dentro.

Dançou. Dançou como quem nasce de novo. Descobriu, enfim, que não estava vivendo errado, só estava tentando caber onde jamais deveria. Hoje, caminha com orgulho pela savana, tromba erguida e passos firmes, proclamando ao mundo:

EU SOU UM ELEFANTE!

 

AO LEITOR

Este texto nasceu do desejo profundo de falar sobre identidade, pertencimento e liberdade de ser quem se é, mesmo quando o mundo tenta nos convencer do contrário. O elefante dessa história é, na verdade, muitos de nós: criaturas grandiosas tentando caber em moldes pequenos, sufocando nossa força para corresponder às expectativas alheias.

Durante muito tempo, acreditei que deveria seguir caminhos impostos, viver silenciosamente entre formigas, ser operário de sonhos que não eram meus. Foi preciso coragem para olhar dentro, reconhecer minhas orelhas-lua, minha tromba, minha vastidão. Foi preciso desaprender para, enfim, dançar quem eu sou.

Espero que, ao ler este conto, você também se permita olhar para si com mais ternura. Talvez descubra que não há nada de errado em ser grande, sensível, diferente. Talvez perceba que nunca foi formiga, e que tudo bem ser elefante.

 

Com carinho,
Eli Dias Correa

Comentários

  1. Ah, eu demorei tanto para me aceitar elefante. Um dia me olhei no espelho e me toquei que sou um elefante único, incrível, especial. Lindo, lindo o seu conto. Profundo! E principalmente; necessário!

    ResponderExcluir
  2. A delicadeza do gigante elefante de encontrar a si mesmo. A auto aceitação é o manto de profunda paz. Amei, Eli 🌻

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

FOLHA DOS GANCHOS - MORREU O ICA DO PUDICO

FOLHA DOS GANCHOS - FALECEU O GEGÊ DO SEU GENÉSIO.

FOLHA DOS GANCHOS - FALECEU A SUELI DO VERRUMA