FOLHA DOS GANCHOS - COLUNISTA VALMIR VILMAR DE SOUSA - A VIDA PELA JANELA
COLUNISTA: VALMIR VILMAR DE SOUSA
POETA ESCRITOR
A VIDA
PELA JANELA
Sentado nesta cadeira de balanço
olhando pela janela vejo o tempo passar. Lá fora uma multidão de pessoas se
acotovelam diante de um estresse sem precedentes, uns correm para o lado
direito outros para o lado esquerdo, alguns ficam indecisos qual o rumo a tomar
ficando parados no meio da rua sem direção. No outro lado da rua existe um café
bem movimentado, com suas cadeiras na calçada, ampara todos que desejam
saborear o café das três, me parece ser delicioso, pois percebo nos lábios de
cada um o prazer que sentem a cada gole desta bebida arábica. Me chama a
atenção, um senhor beirando os sessenta anos talvez, todo dia exatamente as 15:45hs
apodera-se da mesa do canto esquerdo, sempre a mesma, a folhear seu jornal que
traz sempre consigo enquanto espera seu café num ritual de dar inveja a
qualquer inglês. Vejo aquela senhoria de bengala sorrindo para todo mundo
enquanto passeia pela calçada num vai e vem sem preocupar-se com o tempo. Ah!
Aquele garoto engraxate sempre alegre provocando sorrisos aos seus clientes,
penso que ele deve ser um bom contador de piadas, do contrário os senhores que
acorrem a ele para dar brilho em seus sapatos não sorririam.
Ontem presenciei uma cena que me
entristecera por demais, ao ver uma criança pedinte ser humilhada diante de
todos. Me pergunto: por que as pessoas agem desta forma com os desvalidos?
Porque não socorrer aquela criança ajudando-a com carinho, atenção e um pedaço
de pão? São cenas que estou acostumado a presenciar da minha janela. Não posso
negar que vi um homem bondoso socorrer aquela criança levando-a pela mão para
beber um suculento café com leite quentinho. Ainda existem almas boas.
Outro dia dois religiosos se
encontraram na praça iniciando um discursão por disputa de espaço, fiquei a
pensar: o Deus não é o mesmo? Precisam disputar espaço para pregarem o mesmo
Deus? Não me conformei e chorei. Esta chuva que cai torrencialmente lá fora,
lavando as calçadas levando toda a sujeira para os bueiros entupidos das ruas
provocando pequenas inundações aqui e acolá. Me questiono quem provoca estas
inundações: o excesso de água da chuva ou o desleixo do cidadão que não cumpre
suas responsabilidades, delegando as autoridades poderes que não lhe compete?
Penso estar velho demais para tais questionamentos.
Meus cabelos brancos que o tempo
plantara. Minhas rugas que a cada dia surgem em minha pele. Os sinais de
cansaço vez ou outra me visitam. Minha visão já um pouco turvada não me permite
enxergar com nitidez como outrora. Porém através desta janela me comunico com o
mundo lá fora, vejo o tempo passar e acontecer por detrás deste vidro. A vida
sorri para mim, as pessoas sorriem para mim, Deus sorri para mim. Lá fora está
chovendo e eu aqui a perceber... minha vida acontecer...
Valmir Vilmar de Sousa (Vevê)
25/03/25
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