FOLHA DOS GANCHOS - COLUNISTA MÁRCIA RAQUEL - Não dá de curar algo que você finge que não dói

  COLUNISTA: MÁRCIA RAQUEL MARTINS

 ESCRITORA E PEDAGOGA




Não dá de curar algo que você finge que não dói


Na amplidão de dias que nos atravessam, somos marcados por tramas invisíveis que se entrelaçam aos tecidos da vida, como costuras feitas às pressas. Cada dor que enfrentamos deixa uma cicatriz que não apenas conta uma história, mas também transforma quem somos. Ainda assim, há uma tendência humana de silenciar essas dores, de fingir que não existem, como se reconhecer fosse abrir uma ferida que nunca cicatriza.

Vivemos em um mundo acelerado, onde a fragilidade é vista como fraqueza e o tempo para cuidar das nossas cicatrizes parece um amparo impossível. Há uma pressão implacável para seguir em frente, para não olhar para trás, mesmo quando aquilo que deixamos para trás nos segue como uma sombra. Construímos disfarces que escondem nossas histórias, que protegem nossa existência num cenário onde a vulnerabilidade não tem espaço.

Mas, em algum momento, as cicatrizes começam a falar mais alto, exigindo que sejam reconhecidas. As dores não desaparecem simplesmente porque as ignoramos; elas vivem em nós, moldando cada pensamento, cada decisão, cada passo. Fingir que não existem é um ato de sobrevivência, mas não é um ato de cura. Cura exige coragem, exige desacelerar, exige enfrentar o desconforto de desatar os nós que nos prendem ao passado.

Reconhecer essas tramas é mais do que olhar para o que foi perdido; é aprender a viver com o que ficou. É um processo de se reencontrar em meio às ruínas e perceber que, mesmo no silêncio das dores não ditas, há força. Porque cada cicatriz é prova de que sobrevivemos. E talvez, entre os atropelos do mundo que não quer parar, possa existir um momento para nós mesmos, um momento para acolher o que nos machuca, não como quem deseja apagar, mas como quem quer entender. Afinal, as cicatrizes são memórias daquilo que nos tornou quem somos.

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