FOLHA DOS GANCHOS - COLUNISTA VALMIR VILMAR DE SOUSA - A MENINA E A LUZ ELÉTRICA

 COLUNISTA: VALMIR VILMAR DE SOUSA

   POETA ESCRITOR 




A MENINA E A LUZ ELÉTRICA

 

            Fora uma viagem longa e duradoura entre a serra verdejante e o litoral banhado de águas cristalinas. Sobre a carroceria de um velho caminhão, lá estava ela e as demais crianças eufóricas para desbravarem novas terras, novos ares, construindo uma nova história. Seus pensamentos viajavam entre o que estava deixando para trás e talvez o que iria encontrar no novo lar. À medida que o velho caminhão serpenteava as perigosas curvas daquela serra, suas lembranças se dissipavam entre a poeira deixando marcas na velha estrada.

            Em cada curva, em cada descida, sua ansiedade aumentava juntamente com sua imaginação de encontrar talvez, o oásis ou quem sabe seu pote de ouro. As horas foram passando, na cabine do velho caminhão seus pais sonhando com um novo amanhecer, na carroceria ela e seus irmãos admiravam as belezas que a natureza ofertava a todos naquela viagem. Árvores, plantas rasteiras, córregos, cascatas, pássaros, algumas vacas pastando, cavalos a galopar, tudo isto eram cenários corriqueiros que ela estava acostumada a vivenciar e compartilhar, afinal São Leonardo, local de onde ela vinha havia tudo isto. Nada era novidade para aquela inocente menina nascida e criada na serra, porém ao se aproximarem da região da capital, algo ofuscou os seus olhos, num misto de deslumbre e felicidade ao ver algo que ela ainda não conhecia, luzes penduradas em postes de madeira iluminando vias e casas. Seu coração palpitou de felicidade vendo aquele clarão diante de si e sua cabeça imaginando chegar em seu novo lar e ter o prazer de acender todas as luzes que pudesse existir. Porém, a ingenuidade daquela criança não permitia que ela imaginasse algo diferente, mas sim ver sua casa toda iluminada, o que ao chegar em seu novo endereço sua total decepção ao perceber que fora apenas um sonho, pois, além de não existir luz elétrica na sua nova e humilde casa também não existia nenhum saneamento básico. Passados alguns anos, esta lembrança mante-se viva em sua memória, porém percebe o quanto foi importante na sua caminhada a convivência com seus pais e irmãos onde todos conseguiram ultrapassar as barreiras que se fizeram presentes em suas vidas e cada qual com suas individualidades venceram os percalços e hoje relembram de sua infância com alegria e muito orgulho de terem nascido na família de seu Kido e dona Angélica. A menina hoje relembra o episódio da primeira vez que viu a luz elétrica com muita alegria e orgulho, pois faz questão de narrá-lo como uma experiência ímpar em sua vida. Todos nós temos nossas histórias de infância umas boas outras nem tanto, mas sabemos que elas estão em nossas memórias e podemos alcançá-las e compartilhar quando assim o desejarmos. Esta menina encontrou este manezinho que vos escreve e está junto dele quarenta anos vivenciando experiências enriquecedoras. Menina Conceição, minha parceira, amante e minha musa inspiradora.

 

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 12/06/22


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