FOLHA DOS GANCHOS: COLUNISTA VALMIR VILMAR DE SOUSA - A ÚLTIMA FESTA

    COLUNISTA: VALMIR VILMAR DE SOUSA

   POETA ESCRITOR  


A ÚLTIMA FESTA

(Homenagem ao Peninha, guardião da memória e história da cultura catrinense)

 

No romper da aurora do dia dezesseis de março de dois mil e vinte e três, inicia-se mais uma assembleia bruxólica nas pedras de Itaguaçu. Talvez seja a última, afinal o nosso último bruxo fora convocado terminantemente a estar presente, do contrário correria o risco de as bruxas “malvadas” rogarem uma praga transformando-o em pedra. Ele que de bobo não tem nada, aceitou de imediato o convite.

Entrou no seu quarto, banhou-se, colocou uma calça branca, vestiu sua camisa azul de bolinha branca, pendurou sua velha e surrada máquina fotográfica que tantas histórias foram contadas através de suas lentes, limpou os seus óculos, por último posicionou-se defronte o espelho, despediu-se tendo a certeza de que a sua caminhada tinha valido a pena. Suas memórias, suas “narrativas: verdades contadas por um mentiroso”, era a sua essência.

 Embarcou no trem do tempo e foi em direção aos amigos que os esperavam ansiosamente. Lá chegando todo sorridente, é recebido com um caloroso abraço do seu mestre Franklin Cascaes que tanto aprontou e ensinou por estas bandas desterrenses. O velho bruxo emocionado por reencontrar o seu pupilo desaba num choro convulsivo provocando uma choradeira entre todos os presentes. A velha bruxa e sua corte dão as boas-vindas com um caldeirão preparado de ervas que exalavam aromas por todo o ambiente. Lobisomens, Boitatás e outros convidados que vieram de várias plagas como o “menino caminhante” acompanhado de “Miguelinho, o louco generoso, o vizinho, o nico sem sorte, o rei de São José”. O “menino trabalhador decifrando as palavras, o arauto da matinê, tesouro guardado”. Todos os cumprimentavam com longos abraços desejando uma boa estadia entre os seus amigos em sua nova morada.

Após os cumprimentos a festa se inicia onde todos irmanados dançam, cantam, contam histórias, “contos, casos e ocasos raros” sorriem, afinal o convidado especial se fez presente para a última festa bruxólica de Itaguaçu.

Amanhecera o dia com uma estrela brilhando no firmamento, indagando que devemos seguir os passos de nossos mestres, continuarmos a nossa caminhada difundindo a nossa cultura popular, pois lá do alto estarão a nos abençoar. Vá em paz, último bruxo desterrense.

 

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 

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