FOLHA DOS GANCHOS: COLUNISTA VALMIR VILMAR DE SOUSA - 23 DE MARÇO
COLUNISTA: VALMIR VILMAR DE SOUSA
POETA ESCRITOR
23 DE MARÇO
Este é
um dia especial, pois numa terça-feira de 23 de março de 1920, nascia um ser
muito especial que me daria a oportunidade de renascer nesta cidade que também
aniversaria com seus 350 anos de idade que por um simples decreto envelheceu 57
anos, já viram isto? Alguém envelhecer 57 anos num passe de mágica? Pois é,
nossa Florianópolis de cantos e encantos onde tudo é possível aqui acontecer.
Ilha da moça faceira da velha rendeira como bem poetizou o mestre Zininho
acerca desta cidade.
Este ser
chamada Domingas me carregou durante nove meses em seu ventre com muito esmero,
amor e orgulho, orgulho de ter parido mais um, afinal oito me antecederam,
sendo que alguns ficaram no caminho, cumpriram um breve pit-stop neste planeta,
outros continuaram sua caminhada estando entre nós mais quatro, pois a vida é
feita de idas e vindas, como um trem que vai parando em cada estação para que
alguns passageiros desçam outros subam em seus vagões para continuarem seu
percurso. E nesta viagem se observa paisagens das mais variadas tonalidades,
formas e tamanhos. Alguns conseguem ver mais além algo que o outro não
observou, outros conseguem ouvir um cantar dos pássaros, outros o som da
cachoeira, outros o bailar das águas do rio e do mar. Alguns observam as cores
do arco-íris, outros uma rosa no jardim e assim vamos vivenciando nossa
experiência, nossas expectativas. Eu tenho muito a agradecer a este ser que me
pariu. Seu exemplo de honestidade, seriedade, moral e muito amor dentro de sua
capacidade de entendimento. Paulo nos diz em um de seus escritos: “quando eu
era criança pensava como criança, agora sou adulto penso como adulto”. Quando
criança pensava como tal, questionava, me aborrecia, me revoltava, hoje na
maturidade vejo o quanto fui injusto em me atrever a questioná-la. Aprendemos
com a vida, as experiências nos levam a mudar conceitos e banir preconceitos e
hoje aqui estou fazendo uma humilde homenagem e revendo lembranças de um tempo
que não volta mais, no entanto está gravado em nossa memória para não serem
esquecidas.
Não
devemos esquecer nossas origens açorianas de uma cidade que se transformou numa
pequena metrópole comparando com a velha Desterro de tempos idos. De uma
Desterro desterrada por Floriano Peixoto que neste solo dizimou vidas numa
Anhatomirim dominada pelo ódio do opressor. Pequena ilha do diabo, seu
significado em língua Tupi, justificam as crueldades cometidas pelos algozes da
época? Nossa Desterro não merecia isto, e por ironia do destino seu nome é
trocado para reverenciar o opressor. Esta ilha durante o dia se ilumina pelo
astro rei Sol, porém a noite ela fica mais linda quando a lua se faz presente
acompanhada de suas bruxas e boitatás com a regência do velho bruxo Franklin
Cascaes.
Quando
criança minha mãe falava em bruxas eu me arrepiava de medo sem ter noção do que
significava toda esta estória de bruxa e lobisomem. Era conversa de gente velha
para meter medo nas crianças. Com o tempo fui entendendo o que representava
esta conversa no meu tempo de criança. Hoje guardo recordações do boi de mamão
do Abraão, das cantigas de terno de reis, da visita da pomba do espírito santo
na minha casa onde minha mãe beijava a pomba e as fitas forçando-nos a
repetirem o gesto.
Isto é Florianópolis, esta é
minha mãe, aniversariantes deste dia 23 de março.
Obrigado minha eterna mãe pela
oportunidade de me receber de braços abertos com muito amor e carinho. Obrigado
Florianópolis por me acolher em teu solo fazendo de mim um manezinho orgulhoso
de sua cidade, de sua cultura muito rica.
Parabéns
a todos nós que nascemos neste pedaço de chão.
Valmir Vilmar de Sousa (Veve)
23/03/25.
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