FOLHA DOS GANCHOS - DONA MARIQUINHA E SEU ALTINO

 

   Lembra da dona Mariquinha e do seu Altino Baldança?


Texto: Professor Miguel João Simão

Escritor e Pesquisador

 


Nos meses de junho e julho dava-se o início a colheita do urucum, usado para fazer colorau.

Acima da rua Geral de Canto dos Ganchos (hoje Rua Hipólito Azevedo), numa viela que unia ao morro da igreja Católica, e a escola Abel Capella, era comum ouvir o batuque do socador batendo forte no pilão que desmanchava os urucuns e transformava-os em pó.

Era assim que dona Mariquinha do Seu Altino, uma senhora alta, olhar bondoso, começava suas manhãs, logo após o aparadinho do café feito no coador, que guardava o pó, e que ficava no bule em cima do fogão de lenha.

O local era como se fosse uma mini chácara que ficava dentro da pacata vila de pescadores, dividida entre algumas arvores frutíferas, alguns sombreiros e muitas plantas que rodeavam a casa de madeira.

Altino Guilherme Baldança (1908 – 1995) era natural de Canto dos Ganchos, e filho de Guilherme Francisco Baldança (1884-1931) e de Alzira Floriana Baldança (1885-1976). Dona Mariquinha, de nome Maria Luisa da Silva (1911 - 1993) era do mesmo bairro e filha de José Lino Sobrinho (1861 -1921) e de Luisa Maria de Bittencourt (1879 – 1921).

O casal Altino e Maria se casaram no dia 07 de maio 1935, no cartório de Ganchos, tendo como testemunhas Athanagildo João Baldança, Alvino Francisco Baldança, Francisco Pinto de Mello e Luiz Joaquim de Oliveira.

Nesse dia deu-se início a uma história de luta e cumplicidade, entre o pescador Altino e a criveira e dona de casa Maria, popularmente chamada de Mariquinha. Viveram uma vida simples, mas lutaram para não deixar nada faltar aos filhos, Irison (1935 – 2009) e Janete, que viveram na proteção dos pais até se tornarem independentes.

Mariquinha se virava para ajudar o esposo, ora fazendo colorau, ou cuidando do pequeno cafezal que mantinham para o consumo, que ela tratava desde a colheita até levar ao pilão os grãos de café seco e limpo, para moer e tornar-se pó.

O cheirinho do café torrado de dona Mariquinha incendiava os arredores, que quando a fumaça saia na chaminé, junto vinha o aroma do bom café feito pelas mãos da esposa do Altino.

Conversando com os três netos mais velhos, sentimos a saudade que brotou no coração de cada um, e nas palavras, as boas lembranças da casa da avó.

Eda Janete (Silva) Soares, (66 anos) a neta mais velha do casal descreveu assim:

“Lembro das flores que ela cuidava com amor, da casa sempre bem arrumada, dos pés de jabuticabas e dos peixes que o vô trazia. Mas não esqueço mesmo do feijão gostoso que ela fazia.                                                                                                                        O crivo era um meio de ganhar uns trocados e também virava uma distração para a vó Mariquinha. Havia sempre uma toalha de crivo em qualquer prateleira dentro de casa. Não tem como esquecer, é muita saudade, quando a gente lembra, falou a filha de Janete, neta do casal”.

Eldo Osvaldo da Silva, irmão da Eda (64 anos), faz um relato da casa e das boas lembranças dos avós:

 “Era uma casa de madeira pintada de azul. Atrás da casa uma cozinha com fogão de lenha, filtro d`água de barro. No quintal o velho pé de urucum, parreira de uvas, pessegueiros, um cafezal e dois pés de jabuticabas.                                                                                         E guardamos as lembranças das tardes, quando ela sentava ao lado da casa para fazer as toalhas de crivos.                                                                                                                    O vô fazia suas próprias redes e fazia as canoas de garapuvu. Era cuidadoso com a embarcação e cuidava de tudo sozinho”.

Alcion Irison Baldança (65 anos), relatou o seguinte:

“ Eu lembro que na frente da casa tinha uma cadeira de balanço. O assoalho da casa era sempre muito cuidado, ela passava uma cera vermelha e depois passava o escovão. Tinha uma seringueira grande e o tanque de lavar roupas ficava ao lado. Era uma casa simples, mas era pra lá que a gente corria e ficava conversando nos dias de frio ao lado do fogão a lenha. Estou escrevendo e chorando de tantas saudades que ficou dos bons tempos”.

Esses depoimentos acusam um tempo que ficou registrado na vida de cada parente, amigo, conhecido do seu Altino e da dona Mariquinha.

Pessoas simples das terras de Ganchos que fizeram história no bairro de Canto dos Ganchos. Gente que vivia com o cansaço do trabalho braçal, mas que não carregaram o estresse dos dias atuais. Avós dedicados, carinhosos com os netos, tios queridos para as dezenas de sobrinhos, gente das terras de Ganchos que deixaram saudades.

 


 

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