FOLHA DOS GANCHOS - NACA A MULHER PESCADORA DOS MARES DE GANCHOS

 

                  Naca, a mulher pescadora dos mares de Ganchos

   
(crédito: arquivo pessoal de Nair Mance)


Texto: Professor Miguel João Simão

Escritor e Pesquisador.

 

Uma sacola com livros, recortes de jornais e revistas, muito bem guardada, conta através de escritores e jornalistas a saga da gancheira que desde aos 11 anos de idade conhece os desafios da pesca.

Nair Maria Cabral, ou simplesmente Naca, nasceu em 05 de outubro de 1950. Filha de João Cabral Neto, que era conhecido por Amanaro e de Maria Benta Cabral, a dona Bilia, é natural da praia do Cabral, de Canto dos Ganchos, próximo à praia da Ponta ou praia do Marcelo como é conhecida desde 1970.

O casal teve 4 filhos: Nair, Neusa, Geni e José João Cabral (falecido), todos criados na mesma região.

João Cabral Neto era viúvo e sua falecida esposa nativa de Ganchos, do Canal da Olaria, faleceu ainda jovem, deixando duas filhas.

Dona Bilia, na ocasião que casou com Amanaro, tinha a filha Maria Irene Xavier, que foi criada pelos avós materno, Tomás Garcia (o barbeiro) e Benedita Garcia.

Os pais de Maria Benta vieram de Bombinhas e se instalaram em Ganchos do Meio, depois passaram a residir em Canto dos Ganchos. Em Bombinhas tiveram os três filhos: Maria Benta, Benício e Lídio.

A vida de Naca foi sempre voltada ao trabalho, pois o pai ganhava pouco na pesca e a mãe como costureira também não arrecadava muito.

Mas, a família se virava bem com o pescado que João trazia para o consumo e para a troca com farinha e o pouco que sobrava vendia.

 

“Miguel, a gente tinha muita fruta, algumas verduras plantadas, a farinha que a gente trocava por peixe em Palmas ou no Calheiros nos engenhos, mas não era suficiente pra gente. Faltava o dinheiro pra comprar o pão, e outras coisas pra dentro de casa. Mesmo assim a vida era boa”

 

Me lembro bem quando foi inaugurada a luz elétrica, foi em 1967, meu filho mais velho era pequeno. Seu Miguel Flor era prefeito e a dona Dodóra (Deodora Simas Custódio), era vereadora. A festa foi na frente da casa dela.

Lembro muito dela (Dodóra), pessoa que só fazia o bem pra comunidade, gostava de ajudar todo mundo”.

A filha do Amanaro e da Bilia, estudou até o terceiro ano e foi aluna da dona Terezinha (Elcia Terezinha dos Santos – Tereza do Alcino), uma professora muito querida, segundo Nair, que diz ter muitas saudades dela. Foi também aluna da dona Walma Mafra Oliveira.  Aos 11 anos de idade, teve que assumir junto com o pai a embarcação e assim começou sua lida na pesca.

Sente muito orgulho quando fala da profissão e do pai, que diz ser o grande professor dela, pois ela só teve até os dias atuais essa profissão, a de pescadora.

Naca tem uma memória prodigiosa, lembrando em pequenos detalhes das coisas do passado. Ela descreve um Canto dos Ganchos que muita gente não conheceu. Fala da escola que funcionava na casa do senhor Nilo Mafra, das vendas do: Nenén Baldança (Graciliano Francisco Baldança), Deodato Alves, Miguel Flor (Miguel Pedro dos Santos), João Francisco Baldança, da loja do Atanagildo Baldança, da inauguração da Escola Abel Capella em 1964, das eleições de 1965 e das inúmeras pessoas que conviveu naquela época.

Suas habilidades e conhecimento sobre a pesca, diferenciou das outras mulheres da comunidade, pois já participou de congressos em Brasília e em outros estados, e em Santa Catarina, participou de eventos ligados a pesca em diversas cidades.

Em 1965 conheceu Silvestre Mance, um paulista que chegou nas terras de Ganchos para negociar óleo de fígado de mangona (espécie de cação) que transportava para São Paulo.

O paulista alugou a velha casa de Nilo Mafra, onde foi a escola, e Naca passou a trabalhar com ele. Daí nasceu o romance entre o paulista e a gancheira Nair.

Em 1966, Silvestre e Naca casaram-se, e Naca nunca desistiu de pescar, sempre envolvida com as coisas do mar. Enquanto isso, Silvestre passou a comprar cabeças de peixes, secava-as e a cada duas toneladas mandava para São Paulo, já que a pesca da mangona começou a fracassar.

Silvestre Mance nasceu em 04 de fevereiro de 1930, faleceu em Canto dos Ganchos em 07 de novembro de 1985.

Do casamento tiveram 5 filhos: Silvestre Filho, Ana Lucia, Nair, Alzelino, Marcelo.

Sem pensão do falecido esposo e com 5 filhos para criar, Naca lutou muito para vê-los crescidos e todos bem encaminhados. Do esforço da Naca, os filhos buscaram suas profissões e de forma honesta trabalham. São duas professoras, um pedreiro/ construtor e dois pescadores, sendo o mais velho dono de barco de pesca.

A mulher pescadora que já passou pela presidência da Colônia dos Pescadores, sendo a primeira mulher a exercer o cargo, continua na sua luta, fazendo e consertando redes e levando a cada manhã sua embarcação ao mar.

É notório o sorriso de felicidade da Naca, quando falamos dos filhos e dos netos. Cai uma lágrima no rosto da mulher de 74 anos de idade, quando lembra dos pais, do irmão e dos avós que marcaram sua vida e deixaram bons ensinamentos para aquela que foi capaz de enfrentar a vida difícil do mar e servir de exemplos para muitos.

Meu abraço de carinho para a Naca, pela amizade com nossa família, fortalecendo laços fraternos desde os nossos antepassados.

        

                                                 (crédito: Nair Mance)



crédito: Danubia Ramos

                     (capa de um livro que Naca tem a biografia de Naca)


                                          créditos: Danubia Ramos

                     (mãe do Silvestre Mance - álbum de família de Nair Mance)




                                       
(Colegas de trabalho: Danubia Ramos e Fabíola Costa, dividindo espaço com Nair)


                             Orgulho de ser pescador - foto: álbum de família)

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