FOLHA DOS GANCHOS - DONA IROLDINA - HISTÓRIA DE LUTA.


 IROLDINA QUINTINO JORGE - UMA GANCHEIRA DAS TERRAS DA ARMAÇÃO

 Texto: Professor Miguel João Simão

Escritor e Pesquisador.


Ano de 1928, barcos a velas e a remos enfeitavam o mar da região sul do Distrito de Ganchos.  Fazenda de Armação era reduto de pescadores, alguns pombeiros, algumas olarias e pequenos comércios que forneciam os alimentos a pobre população isolada, que tinham como  transporte as embarcações.

Os poucos recursos que a comunidade contava era com as benzedeiras, parteiras, o peixe e a farinha dos engenhos da comunidade e outros da região.

O Casal Antonio Jorge Junior (1891 – falecido) e Maria Amália Quintino (1897 – falecida), trabalhavam de maneira incansável para dar o sustento para os filhos, totalizando 4, sendo a caçula da família, Iroldina que nasceu nesse ano de 1928, no dia 29 de janeiro.

A mãe foi costureira de “mão cheia”, diz ela ao lembrar que era muito procurada na região. O pai era pescador e era pombeiro, com uma pequena salga de limpeza e conservação do pescado.

“Lá em casa todo mundo trabalhava pra ajudar a mãe e o pai. Meus irmãos, Altamiro e Manoel desde pequeno trabalhavam com o pai no mar e eu mais a Laura (minha irmã),  a gente ajudava na lida da casa, limpava os peixes nas salgas, ajudava em casa, era tudo muito trabalhoso e difícil. A gente não tinha estrada, isso era um deserto, mas era muito bom morar aqui”.

A primeira estrada que ligou a Armação da Piedade, os bairros da Fazenda, Costeira, Antenor, Caieira e Areias de Baixo até a BR 101, só foi aberta com o primeiro prefeito eleito Miguel Flor, e inaugurada em 12 de dezembro de 1968.

Mas, Iroldina conta da lida dos tempos de criança e adolescência, lembrando amigas e as coisas que fazia, que hoje ainda dá boas risadas quando lembra.

Um fato inesquecível e que ela gosta de contar, foi quando um dia saiu para apanhar panha (uma espécie de algodão, chamado de algodão de paineira) que servia para encher almofadas e travesseiros. Essa atividade fazia toda semana.  Num certo dia, depois de encher os sacos de panha, a prima, sua fiel escudeira, viu uma planta chamada “dama da noite”, numa pedra, achou bonita e resolveu se aventurar subindo a dita pedra, mas encontrou dificuldade para descer.

Iroldina conta, que foi ficando tarde e se viu apavorada igual a prima, e resolveu chamar o pai para ajuda-las. Mas o final foi feliz porque depois de muito trabalho a prima conseguiu descer, e isso fez com que elas deixassem os familiares e vizinhos apavorados porque chegaram em casa quase anoitecendo.

Moradora do Anogueiro (rua bastante conhecida e antiga do bairro) Iroldina conheceu a primeira escola que ficava próximo sua casa, e foi com a professora Satira Monteiro que aprendeu a ler e a escrever.

Depois das aulas, vinha a rotina nas salgas do Janga Monteiro (João Monteiro), Aprigio Monteiro, entre outros que precisavam da mão de obras das mulheres para limpar o pescado. Mas, os finais de semana, sempre dava um jeito para passear no Canto dos Ganchos, onde morava o conterrâneo Juvenal Soares, casa que ela sempre frequentava pela amizade com o casal. Isso lhe fez criar laços de amizades com o casal Teonilio e Iracildes Santos (Dona Cici do Teonílio) pessoas que ela lembra sempre com muito carinho.

Das festas, ela fala com muita alegria, pois muitas vezes se aventurou com as colegas e parentes para dançar em Sorocaba (Biguaçu) e não esquece da festa de Nossa Senhora da Piedade, que não faltava um ano, era sempre presente. Da festa do Espírito Santo, diz que poucas vezes foi, pois, a festa nem sempre acontecia, vez ou outra que faziam.

Em 1953, namorou e casou com o primo Fernandes Targino Jorge (1928-2011), também nativo do mesmo bairro, e filho de Targino Jorge do Nascimento (1894 - falecido),  e de Leopoldina Clara de Oliveira (1897-1945).

O casal Iroldina e Fernandes teve uma vida simples, mas conseguiram educar bem os dois filhos: Valdeci, de profissão pedreiro, e ex vereador da cidade, e a filha Noeli, Técnica em Enfermagem.

Aos 96 anos de idade, lúcida, bem ativa, dona Iroldina recebe bem as pessoas em sua residência e gosta de contar o causos de sua época.

Com a parceria da filha Noeli e do filho Valdeci, tivemos o prazer de poder conhecer mais uma história das terras de Ganchos.

                                                 (Miguel Simão, Iroldina e Noeli Fernandes)

(Dona Iroldina quando era jovem)

    
(Da direita para esquerda: Danúbia Ramos, dona Iroldina, Fabiola Costa e Noeli Fernandes)




                                                         (O casal Iroldina e Fernades)


 


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